Confira o depoimento da diretora do Curta Metragem “Nossa Casa”

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Em agosto a Associação São Roque lançou o Curta Metragem “Nossa Casa”. O Filme retrata de forma artística o olhar das crianças e adolescentes da comunidade do Guarituba em Piraquara – PR sobre o que compõe a identidade delas. O fio condutor do filme é a música “A Nossa Casa” de Arnaldo Antunes, Alice Ruiz, Celeste Antunes, Edith Derdyk, João Bandeira, Paulo Tatit e Suely Galdino, e arranjada por Ana Cristina Lago e Rodrigo Olavarria Lara.

Confira a seguir o depoimento da diretora do curta, Divina Helena, que conta como foi o processo de criação do vídeo.

Depoimento: Divina Helena sobre o curta-metragem “A nossa casa”

O curta-metragem foi uma experiência incrível pra mim e para as crianças. A trilha sonora do vídeo foi a música “nossa casa” do Arnaldo Antunes e Alice Ruiz. O arranjo foi produzido pela Tina e o Rodrigo, e a interpretação foi feita pelo Coro de Gato na Tuba, regido pela Tina, e eu fiquei responsável pelas imagens.
Esse foi um momento muito especial e forte para mim, pois é um trabalho inovador que fizemos. A minha ideia foi criar uma linha de trabalho juntando as minhas vivências, todas as minhas experiências e a minha formação como psicóloga e psicanalista.

No começo de 2014, quando entrei na associação, eu comecei a trabalhar com as crianças e desde o começo até a gravação do curta eu trabalhei muito com eles a questão do “quem sou eu?”, “quem sou eu nesse corpo?”, “quem sou eu nessa casa onde moro?”, quem sou eu na natureza?”. E dentro de cada uma dessas questões tinham várias outras que permeavam cada uma delas. Esse vídeo é o resultado do trabalho que foi desenvolvido durante todo o ano de 2014.

A minha forma de trabalhar é sempre respeitando a singularidade de cada um, mesmo dentro de um coletivo. Porque a gente pode até estar ali, dentro de um coletivo, afinal são turmas de crianças, mas o fato é que cada um deles tem a sua marca e isso é inegável. É extremamente visível e perceptível a marca de cada um. Acho que o curta-metragem “A nossa casa” revela isso também.

A nossa casa é onde a gente está, a nossa casa é em todo o lugar. Às vezes o que é vivido fora, é um mundo cruel, é muita violência. Essas crianças veem coisas muito difíceis de aceitar e convivem com coisas pesadas. A minha função é tentar fazer com que eles encontrem cada vez mais, formas criativas de viver, tanto na arte como na vida.

Muitas vezes a realidade lá fora não é tão bonita e leve como as crianças imaginam. Algumas vezes a vida é sofrida, difícil e desagradável, mas o que eu passei a eles é que eles precisam sempre acreditar que é possível lidar com essas situações que por vezes parecem impossíveis de serem resolvidas. E é por isso que eu trabalho muito com eles a criação. Eu junto materiais que são ditos por eles, que são expressos corporalmente, artisticamente, os potenciais ali de cada um e coloco neles a confiança. Quanto mais o tempo vai passando, mais a confiança se estreita e aumenta, ali entre nós há um estreitamento dos laços afetivos, do laço de amor, porque tudo o que eu fiz e faço ali é com muito amor.

Esse vídeo tem um pouco de tudo o que escrevi aqui, eu digo que é um pouco, porque só quem está ali todos os dias vê exatamente como é que as coisas funcionam. O curta-metragem é uma forma de poder apresentar para as crianças uma nova ótica com relação a onde elas vivem, ao lugar realmente. Muitos deles falam “ah, tia, mas tem barro, é feio, mas tá construindo”. E isso não importa. O que realmente importa é o que está acontecendo ali dentro desse lar. Não importa se ela é de madeira, pintada ou não, se é bonita ou feia. O que essas crianças precisavam compreender é que o importante é o que se passa dentro de casa, como é que eles vivem e como é o ambiente familiar.

O vídeo não é apenas para ser bonito, artístico e estético, esse vídeo é para mostrar uma nova visão para essas crianças e também para que a família dessas crianças enxergue que é possível viver bem e feliz onde elas moram.
Durante todo o processo de criação desse vídeo eu estive sempre muito animada, é claro que com aquele friozinho na barriga, afinal, foi uma experiência nova pra mim. Foi a primeira experiência que eu fiz, ao mesmo tempo, direção, preparo corporal, direção de movimento e direção artística.

Cada criança nesse vídeo representou uma das artes que trabalhamos na associação. O propósito é que eles não ficassem em lugar de “vítimas”, onde as pessoas teriam dó deles. A verdade é que não importa se a pessoa mora numa casa de barro ou de concreto, numa mansão ou numa casa simples. Você é carne, é osso, é órgãos, e você sente, percebe, pensa e deseja.

Cada um é responsável pelas suas escolhas e todos podem desejar. Todos desejam e é importante que se reconheça isso e que se dê um lugar para que isso possa realmente ser vivido na carne, no corpo e na alma.

Diviane Helena.

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